Elas movem estruturas: 25 de julho e a potência das mulheres negras Latino-Americanas e Caribenhas
- Carlos Santos

- 25 de jul.
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Mais que uma data comemorativa, o 25 de julho é um marco histórico e político de resistência e reexistência. Celebra a força coletiva das mulheres negras na América Latina e no Caribe, sem jamais esquecer o peso das estruturas coloniais, racistas e patriarcais que seguem sendo combatidas.

No calendário das lutas antirracistas, o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é um ponto de encontro simbólico e político entre territórios, vozes e memórias. Instituído em 1992, a partir do 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas em Santo Domingo, na República Dominicana, a data foi criada como resposta organizada às violências estruturais do racismo, do sexismo e da pobreza que incidem de forma atravessada sobre as mulheres negras. Desde então, o 25 de julho tornou-se um grito internacional por visibilidade, direitos e reconhecimento.
No Brasil, onde a população negra é maioria, a data ganha contornos ainda mais profundos. Em 2014, através da Lei 12.987, foi instituído oficialmente o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza, liderança do Quilombo do Quariterê no século XVIII, não apenas coordenava as atividades políticas e econômicas da comunidade, como representava uma das mais poderosas figuras femininas de resistência à escravidão. Sua memória, negada por tanto tempo pela historiografia oficial, é hoje um farol que ilumina a centralidade da mulher negra na construção da nossa história.
No entanto, o reconhecimento simbólico não basta. Dados dos últimos anos expõem o abismo social e econômico que ainda separa mulheres negras do restante da população brasileira. Segundo levantamento do Insper, publicado em 2020, a diferença salarial entre homens brancos e mulheres negras com o mesmo nível de escolaridade ultrapassa 100%, dado que continua sendo uma das principais referências sobre desigualdade racial no mercado de trabalho. E, conforme dados de 2017 do Mapa da Violência, 66% das vítimas de homicídios femininos no Brasil eram mulheres negras. Essas estatísticas não são acidentes: são o resultado de um sistema que perpetua o racismo estrutural, a misoginia institucional e a desigualdade econômica.
A realidade das mulheres negras latino-americanas e caribenhas segue marcada pela invisibilidade nas estatísticas, pela ausência nos espaços de decisão e por uma violência cotidiana que não raro atravessa seus corpos e territórios. Ainda assim, elas seguem forjando caminhos, redes e esperanças. É no cruzamento entre opressão e invenção que se inscreve a potência de suas existências.
No Brasil contemporâneo, nomes como Érika Hilton demonstram como a presença política de mulheres negras pode, de fato, movimentar estruturas. Parlamentar trans negra, eleita deputada federal por São Paulo em 2022, Érika não apenas rompeu barreiras históricas como também se tornou uma das vozes mais atentas às pautas de justiça social, antirracismo, direitos LGBTQIAP+ e defesa do povo trabalhador.
Reconhecida internacionalmente, foi incluída pela Time Magazine na lista das 100 lideranças emergentes mais influentes do mundo em 2023. Atualmente, encabeça a maior luta trabalhista do século no Brasil: o enfrentamento à escala 6x1, que impõe jornadas exaustivas e desumanas à classe trabalhadora. Sua atuação confirma aquilo que Angela Davis tão bem sintetizou: quando a mulher negra se movimenta, toda a sociedade se movimenta com ela.
O 25 de julho não é uma efeméride para o aplauso vazio. É uma data para lembrar que a luta por reconhecimento, por reparatão histórica e por existências dignas segue urgente. É também o momento de afirmar, com todas as letras, que as mulheres negras não estão apenas resistindo, mas transformando. Estão criando novos paradigmas de poder, reinventando formas de viver em coletividade e redesenhando o futuro.
Celebrar o 25 de julho é honrar a ancestralidade, reconhecer o presente e comprometer-se com um futuro onde nenhuma mulher negra precise mais lutar por aquilo que deveria ser direito. E se hoje o mundo ainda insiste em levantar muros, elas seguem construindo pontes. Porque onde uma mulher negra pisa, o solo se refaz.
Referências:
Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e CaribenhaGustavo Henrique Thomaz Ramos, PROAFE/UFPRhttps://proafe.ufpr.br/dia-internacional-da-mulher-negra-latino-americana-e-caribenha/
O que é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e por que se celebra em 25 de julho?Redação National Geographic Brasilhttps://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2023/07/o-que-e-o-dia-internacional-da-mulher-negra-latino-americana-e-caribenha-e-por-que-se-celebra-em-25-de-julho
25 de julho – Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e CaribenhaFundacão Cultural Palmareshttps://www.gov.br/palmares/pt-br/assuntos/noticias/25-de-julho-2013-dia-internacional-da-mulher-negra-latino-americana-e-caribenha





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