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Lieezou: A Força do Funk de BH que Canta a Liberdade e a Diversidade

  • Foto do escritor: ARCO
    ARCO
  • 23 de out.
  • 4 min de leitura

Nascido na Vila Apolônia, comunidade da região de Venda Nova, em Belo Horizonte, o cantor Lieezou, de 31 anos, tornou-se uma das vozes mais expressivas do chamado “Funk Gay de BH”. Hoje, sua presença em palcos, paradas, coletivos de passinho e plataformas digitais é resultado de um percurso construído com estudo, resistência e afeto dentro da comunidade.


Foto: Arquivo pessoal Liezzou
Foto: Arquivo pessoal Liezzou

Sua formação artística começou cedo. Aos 15 anos iniciou aulas de canto. Em seguida, estudou teatro por seis meses, teatro musical por mais seis meses, canto e violão durante dois anos e, depois, piano e teclado por um ano. Também frequentou uma escola de música, onde teve aulas de canto e instrumento. Muitas dessas experiências foram complementadas de forma autodidata, em casa. 


“Sempre procurei estar em espaços de ensino que me ajudassem a evoluir como artista. Fiz tudo isso para aprender a compor melhor.”, resume.

A dança também ocupa papel central na sua trajetória. Ainda criança, arriscava passos de frevo; na adolescência, se aproximou do rebolation e do passinho de São Paulo, aprendendo movimentos por vídeos e observação. Quando conheceu o Passinho de BH, encontrou mais do que uma técnica: encontrou pertencimento e coletividade. Para ele, o passinho é forma de resistência, expressão cultural e patrimônio imaterial da comunidade. Hoje, essa dança compõe sua identidade cultural, política e artística. Suas primeiras referências musicais vieram do funk consciente que ecoava nas ruas da comunidade. MC Dodô e MC Papo, artistas também de Belo Horizonte, foram suas inspirações iniciais.

 

“Foram eles que me fizeram acreditar que um garoto gay de comunidade pode ser um artista nacional e, quem sabe, mundial.” 

Seu repertório de influências, porém, é vasto: Marília Mendonça, Ivete Sangalo, Gabi Amarantos, Ludmilla, Gloria Groove, Pabllo Vittar entre outros, além de nomes internacionais como Lady Gaga, Beyoncé, Rihanna, Whitney Houston, Pussycat Dolls, Lana Del Rey, Mariah Carey, The Weeknd e Tyla.


A inspiração para “Nem Disfarça”, sua faixa mais conhecida, surgiu em um momento comum do cotidiano. Ele conta que estava em casa pintando a parede, satisfeito por estar conseguindo transformar seu espaço com as próprias mãos. Enquanto ouvia sertanejo e sofrência, estilos que também fazem parte de suas referências, começou a construir a ideia de uma letra sobre relações e sentimentos. O resultado foi uma canção que mescla o clima emotivo dessas influências com a batida do funk. A música ganhou força rapidamente, sobretudo após uma apresentação no Aglomerado da Serra. Naquele show, o público cantou o refrão com ele, e a cena se repetiu com ainda mais intensidade quando a música foi retomada. Para Lieezou, aquele momento foi simbólico: um artista gay dentro do funk sendo acolhido e celebrado por um grande público, rompendo expectativas e ampliando possibilidades dentro do gênero.


Embora hoje ocupe espaços importantes na cena do funk de Belo Horizonte, sua trajetória não começou com reconhecimento. Antes de ser aplaudido, Lieezou enfrentou resistências dentro do passinho e nos estúdios de gravação. Alguns dançarinos evitavam ensiná-lo ou incluí-lo nos grupos, e produtores chegaram a questionar sua presença por ser um homem gay no funk. DJs se recusaram a lançar suas músicas quando ele passou a compor sobre sua vivência LGBTQIAP+. 


Foto: Arquivo pessoal Liezzou
Foto: Arquivo pessoal Liezzou
“Ouvi muitas vezes que isso não cabia no funk de BH. Fiquei com raiva, mas isso só me deu mais vontade de lutar pelo meu espaço.” 

Hoje, ocupar os palcos que um dia lhe foram negados também faz parte do significado de sua arte.


Com o tempo, a resistência se transformou em reconhecimento. Hoje, além de cantor, Lieezou é articulador cultural e gestor de dois coletivos de Passinho de BH: Faixas Preta e União dos Crias. Neles, coordena ensaios, debate estratégias, organiza produções e defende a dança como expressão cultural legítima. O trabalho é colaborativo, político e afetivo. Os integrantes também fortalecem sua trajetória, dançando suas músicas, divulgando trabalhos e construindo juntos uma cena mais visível e respeitada.


Ele também é idealizador da Viradinha Cultural, evento que estreou em 2025 no CRAS do Jardim Leblon. Pensada para democratizar a arte, a iniciativa reúne música, dança e artistas da comunidade. Além disso, Lieezou levou o passinho para espaços como a Parada Negra de Belo Horizonte e a Parada de Santa Luzia, reforçando a presença LGBTQIAP+ em manifestações culturais de grande alcance.


Outro reconhecimento importante veio quando sua música “Red Bull com Gelin” foi selecionada para tocar no evento Red Bull Dance Your Style, a Seletiva Nacional, em Belo Horizonte. A escolha reforça sua presença no universo da dança de rua e sua capacidade de conectar música, corpo e comunidade.


Atualmente, Lieezou reúne cerca de 1.000 ouvintes mensais nas plataformas digitais. Mais do que números, suas músicas circulam organicamente em vídeos de dança, coreografias de passinho e rodas culturais, sendo incorporadas por jovens da comunidade.

O artista projeta grandes voos. Deseja colaborar com nomes como Anitta, Ludmilla, Gloria Groove, Pabllo Vittar, Ivete Sangalo e Gabi Amarantos. Também sonha com parcerias internacionais, como Rihanna, Lady Gaga, Britney Spears, Black Eyed Peas, Rema e Tyla.


Ao deixar uma mensagem para jovens da comunidade, fãs e artistas iniciantes, ele destaca que arte é compromisso, comunicação e coletividade. 


“Acreditem na potência da voz de vocês, porque ela comunica e transforma. Mas ninguém constrói nada sozinho. A gente até chega, mas não se mantém sozinho. É preciso caminhar em grupo, se apoiar e fortalecer uns aos outros”, afirma.

Lembra ainda que a cultura produzida pela comunidade é uma das mais consumidas do Brasil e, por isso, merece respeito, espaço e profissionalização. 


“Nosso lugar é de destaque e de força. A luta é grande, mas a vitória pode ser maior. Há espaço para todos que acreditam, estudam e se dedicam.”

Lieezou não canta apenas sobre liberdade, ele a pratica no corpo, na música, na comunidade e na ocupação dos espaços que por muito tempo lhe foram negados.






Informações de contato para imprensa

Assessoria: Gerfeson Alves Ribeiro E-mail: mclzcontatoshow@gmail.com WhatsApp: (31) 97559-2761 Instagram: @lieezou


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