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Fernando Vilaça e a urgência de reconhecer: a LGBTfobia continua matando

No dia 7 de julho de 2025, o Brasil perdeu mais uma vida jovem para o ódio. Fernando Vilaça, de apenas 17 anos, foi espancado até a morte em Manaus (AM) após ser vítima de insultos homofóbicos. O caso, que ganhou repercussão nacional, é mais do que um crime bárbaro. É um alerta ensurdecedor: a LGBTfobia não é opinião, é violência, é morte, é sistema.

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Segundo a Polícia Civil, Fernando foi agredido por dois rapazes após reagir a ofensas por sua orientação sexual. O ataque aconteceu no bairro Gilberto Mestrinho. Ele teve traumatismo craniano, hemorragia e morreu dois dias depois. Os suspeitos foram identificados, são primos, e um deles ainda está foragido. A motivação? Injúria homofóbica. Só isso. Ou melhor, tudo isso.


Este não é um caso isolado. Dados do Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+ apontam que o Brasil segue sendo um dos países que mais mata pessoas LGBTQIAP+ no mundo. Em 2023, foram 230 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ no país, sendo 117 homicídios e 113 suicídios. Um aumento de 34% em relação ao ano anterior. Entre as vítimas, jovens como Fernando, em sua maioria negros, periféricos, que ousam existir fora da norma.


O assassinato de Fernando não é uma tragédia individual. É o reflexo de um projeto social punitivo que insiste em apagar, corrigir e violentar tudo aquilo que escapa ao padrão. Como escreveu a jornalista Paula Litaiff, em um dos artigos mais sensíveis sobre o caso, Fernando “foi punido por não corresponder à heteronormatividade esperada.” A partir dessa leitura, proponho um conceito que resume com dureza e precisão o que temos testemunhado: Fernando foi punido por existir na diferença.


E essa punição tem sido imposta diariamente nas escolas, nas famílias, nos púlpitos religiosos, nos aplicativos de encontros, nas ruas e nas redes sociais.


Estamos falhando. Como sociedade. Como Estado. Como cultura. Não basta se indignar. É urgente educar. É urgente discutir gênero, sexualidade e diversidade nas escolas, nas igrejas, nos lares. Precisamos parar de tratar o combate à LGBTfobia como uma pauta de esquerda ou de direita. Trata-se de uma pauta de humanidade. De uma questão de direitos humanos. E é uma vergonha que, em pleno 2025, ainda existam pessoas morrendo apenas por serem quem são.


Como autor do livro Pequeno Grande Guia Anti-LGBTfobia, digo com clareza: este livro não é apenas uma ferramenta educativa. É um grito de socorro coletivo. Ele nasceu da necessidade de romper o silêncio e de oferecer caminhos para transformar o luto em luta, o medo em ação. Combater a LGBTfobia não é só uma bandeira política ou ideológica. É uma escolha ética, espiritual e civilizatória.


Há quem diga que Deus odeia gays. Mas que Deus é esse que se compraz na morte de jovens como Fernando? Que fé é essa que se orgulha da exclusão, da violência, do extermínio simbólico e literal? A LGBTfobia que mata também se alimenta de discursos religiosos que pregam o amor, mas praticam a morte. É hora de repensar tudo. De ouvir mais. De acolher mais. De ensinar mais.


O sangue de Fernando clama por justiça. Mas também por consciência. Que sua história não seja apenas mais um número nas estatísticas. Que seu nome seja lembrado como um ponto de virada. Que a sociedade entenda, de uma vez por todas, que enquanto houver ódio travestido de moralidade, haverá luta travestida de coragem.


Porque a diferença não deve ser punida. Deve ser celebrada. E viver não pode ser uma sentença de morte.


Referências

  1. “O corpo de Fernando Vilaça e a punição social da diferença”, por Paula Litaiff — paulalitaiff.com https://paulalitaiff.com/o-corpo-de-fernando-vilaca-e-a-punicao-social-da-diferenca/

  2. “Jovem é morto após ser espancado em Manaus; suspeita é de homofobia” — CNN Brasil https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/norte/am/jovem-e-morto-apos-ser-espancado-em-manaus-suspeita-e-de-homofobia/

  3. “Polícia diz que morte de Fernando Vilaça foi motivada por injúria homofóbica; suspeitos são primos e um segue foragido” — G1 Amazonas https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2025/07/10/policia-diz-que-morte-de-fernando-vilaca-foi-motivada-por-injuria-homofobica-suspeitos-sao-primos-e-um-segue-foragido.ghtml




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